sexta-feira, 10 de julho de 2015

Pós Parto - o bebê nasceu e agora?! Aspectos Emocionais

Puerpério pode ser "punk" - mas você não está sozinha!
Arrume as malas, vamos viajar!             


 "Quando percebem que foram profundamente ouvidas, as pessoas ficam quase sempre com os olhos marejados. Acho que na verdade trata-se de chorar de alegria. É como se  estivessem dizendo: "Graças a Deus, alguém me ouviu. Há alguém que sabe o que significa estar na minha própria pele". Nestes momentos, tenho a fantasia de estar diante de um prisioneiro em um calabouço, que dia após dia transmite uma mensagem em Código Morse: "Ninguém está me ouvindo? Há alguém ai?". E um dia finalmente escuta algumas batidas leves que soletram: "Sim". Com esta simples resposta ele se liberta da solidão. Torna-se novamente um ser humano. Há muitas, muitas pessoas vivendo em calabouços privados hoje em dia, pessoas que não deixam transparecer essa condição e que têm de ser ouvidas com muita atenção para que sejam captados os fracos sinais emitidos do calabouço." Carl Rogers

(muitas vezes o bebê quer mamar por muitas horas seguidas, e não aceita ficar longe da mãe. Não adianta se desesperar, a gente aceita que é o que ele precisa, e se vira pra passar o tempo de uma forma legal.)


     Um pouco antes da minha filha completar um ano eu decidi gravar um vídeo bem honesto sobre como foi o pós parto para mim, os aspectos emocionais do puerpério. Eu não esperava que tantas pessoas se identificassem com os sentimentos. Claro que eu priorizei comentar aqueles aspectos de ser mãe que a gente esconde embaixo do tapete e não comenta com ninguém com medo de alguem achar que "não gostamos dos nossos filhos". 
     Encontrei muitos comentarios concordantes com o que eu tava expondo, o que me deixou cada vez mais claro que a maioria das mulheres sentem todo esse turbilhão de emoções, mas nós, enquanto sociedade, escolhemos não falar sobre isso.
      Não falar sobre o lado "tenebroso" do pós parto parece ser uma forma de fingir que ele não existe. "Não vamos lidar com isso, quem sabe passa". Passa, mas a que custo? Será que não há uma forma melhor de lidar com toda essa montanha russa emocional?
     O que percebo é que muitas mulheres tem ficado de escanteio em suas necessidades emocionais, e há um tipo de "gashlight" com elas, que minimiza o que sentem "ah isso é bobeira" "ah até parece que é tudo isso que você ta sentindo" "deixa de besteira seu bebê é saudável você devia estar radiante de felicidade"; e seguem dizendo como deveriamos ou não deveríamos nos sentir, ao invés de simplesmente dar espaço para a escuta do que realmente sentimos
     O que muitos não entendem é que não estamos tristes com nossos bebês, que não estamos amando menos, mas que ser mãe é uma experiência emocionalmente intensa, e ainda que amemos loucamente nossas crias e tenhamos muitos momentos extremamente felizes no nosso dia a dia, e consigamos sentir o amor de forma tão palpável; também é verdade que temos nossas "noites escuras", e que nos setimos sozinhas, assustadas ou sobrecarregadas com todas as mudanças que a chegada de um filho traz em nossas vidas.

     Há uma celebração da vida que chega, e um luto pela vida que se vai, por que ela se vai, ela muda, e ela nunca mais será a mesma. As relações familiares mudam, o "namoro" muda, e nós mesmas mudamos, nos transformamos, nos descobrimos no papel de mãe e morremos um pouco pro que éramos antes. Por isso um nascimento de um bebê é tão forte, ele traz uma enorme alegria, mas enormes mudanças também, e mudar quase nunca é fácil, exige muita transformação interna!

Quando publiquei esse vídeo recebi basicamente três tipos de resposta
1 - mulheres que se identificaram completamente e se sentiram aliviadas ao saberem que não eram as únicas e se sentiram "ouvidas"
2 - mulheres (geralmente ainda não mães) assustadas dizendo que eu estava retratando a maternidade de uma forma horrível e agora estavam com medo de serem mães
3 - pessoas que não são mães, não serão (homens), ou já foram mães a muito tempo atrás dizendo que aquilo tudo era bobagem e não sentiram nada disso e "até parece que é esse drama todo"

Quero comentar esses 3 grupos

Grupo 1 - Identificação

Percebi que muitas sentiram alívio ou se identificarem com minhas palavras, disseram que teriam sofrido menos em seu pós parto se tivessem tido contado com esse tipo de fala antes do bebê nascer. Retrataram sentir muita culpa por terem esses sentimentos, se sentirem "diferentes", isoladas, e estarem cuidando do bebê mecânicamente. Há um sentimento de solidão muito forte nessas mulheres, e um sentimento de terem sido enganadas, de que a maternidade não é aquela coisa idílica que "vendem por aí", e que precisamos falar mais sobre esse outro lado!
Eu coletei a fala de algumas mulheres em resposta ao meu vídeo, e pedi autorização delas para colocar aqui. O sentimento de identificação foi surpreendente! Você também se identifica?
Fiz questão de colocar várias falas aqui, quero que você, mãe no pós parto, com um bebezinho no colo, se sinta ouvida! Saiba que você não está sozinha!





      
Grupo 2 -  Amedtrontamento

     Calma gente não se trata de assustar ninguém, mas de jogar limpo! Vamos ser honestas sobre o que é a maternidade, vamos ajudar a não criar expectativas irreais que depois trarão enormes frustrações! Sejamos francas, a maternidade não é um grande mundo cor de rosa, mas isso não quer dizer que não vale a pena, que não existem momentos lindos, de muito amor, e muito crescimento! Maternidade transforma, mexe com a gente, muda valores, muda nossa visão sobre nós mesmas, sobre o papel que temos no mundo; e tudo que muda nossa vida as vezes dá uma sacudida, e sacudidas mexem em feridas, em memórias, em auto-estima, mexem com nossos sonhos, nos fazem pensar, nos fazem sentir. 
     Assim como as revistas femininas tratam as fotos com photoshop e criam expectativas irreais para nossas meninas e isso gera enormes frustrações, a maternidade retratada por aí também gera uma imagem falsa e cor de rosa demais de como tudo é na realidade. Isso não nos ajuda, pois não nos ensina sobre o que esperar quando chegar nossa vez, e ai nos vemos imersas em um monte de sentimentos e nos sentimos quase que traídas "por que ninguém me avisou?!" ou preocupadas se há algo de errado com a gente. 
      Por isso meu objetivo não é assustar nem dizer que ser mãe é horrível! Pois não é horrível! Muitos momentos tornam tudo isso uma delícia de jornada, MAS existem momentos díficeis com que temos que lidar, e saber que eles estarão ali nos ajuda a nos prepararmos melhor.

     Não precisa ter medo! Isso foi o que EU vivi, e cada um viverá sua jornada de forma diferente. Mas se sabemos que faremos uma viagem, uma viagem sem volta, preparamos nossas malas, olhamos o mapa, escolhemos o hotel, verificamos a previsão do tempo, escolhemos as roupas certas, e ai nos jogamos na aventura! Quem sofre é a mãe que vai para os alpes suíços em pleno inverno levando roupas fresquinhas por que lhe disseram que tudo era um eterno verão! Não! nós preparamos nossa mala, e se levamos nossos casacos, passamos bem por todas essas mudanças de estações. O começo pode ser difícil, mas vai dar o que lembrar! Vai ser a melhor viagem da sua vida. Pensar sobre o puerpério e tudo que vem pela frente, é só uma estudadinha no mapa. O "novo" assusta e se tornar mãe é um mar de desafios e descobrimentos, se estamos preparadas, passamos bem. Se sabemos que todos esses sentimentos são 'normais', não nos culpamos e não nos sentimos tão sozinhas e inadequadas. Portanto não se assuste, encare de frente, e lembre que cada pessoa vive tudo isso de forma única.


Grupo 3 - Que bobagem tudo isso!

      Acredito que quando vivemos algo muito forte em nossas vidas - e se tornar mãe com certeza é um marco - é impossível que certos sentimentos não surjam. Contudo acredito que seja por hábito condicionado, seja por necessidade do momento, muitas pessoas não permitem que esses sentimentos venham a tona, e buscam preencher com coisas de fora, aquilo que por dentro está incomodando. Não julgo, cada um sabe de sua vida e de seus 'calos', mas penso que muitas vezes enterramos sentimentos pois não conseguimos lidar com eles naquele momento, mas eles existem! Um bom mergulho terapeutico mostraria isso!
     Uma pessoa que está passando por dificuldades financeiras, que tem muitos problemas pra lidar, que não tem apoio, uma pessoa com dificuldades de se vincular emocionalmente (as vezes por causa da criação que recebeu), para estas, as vezes não há espaço para lidar com tudo que a maternidade traz, não há tempo, não há condições emocionais conscientes. E ai jogamos tudo para o subconsciente, jogamos tudo para debaixo do tapete, enterramos sentimentos, passamos por cima das memórias, não deixamos o universo emocional aflorar pois seria dificil demais, dolorido demais, preferimos calar.
     Não julgo! Mas duvido que não tenha havido pelo menos uma 'sacudidela' ao se tornar mãe, um momento de choro, uma dúvida, uma culpa, uma insegurança, um sentimento sufocante, uma grande preocupação. As vezes a gente precisa voltar a trabalhar quando o bebê tem apenas 1 mês, as vezes a gente precisa lidar com problemas familiares ainda maiores, com problemas financeiros, e ai a gente coloca as emoções da maternidade no baúzinho! E as vezes esses sentimentos todos até existiram! Mas esquecemos, deixamos para trás, guardamos as coisas boas, e seguimos em frente.
     Talvez essas emoções nunca aflorem, mas não por que não existiram, mas por que faltou terreno emocional fértil, espaço... Talvez elas venham a tona quando nascer um sobrinho, uma neta, talvez aquele sentimento fique guardadinho e se transforme em outra coisa, em outra 'válvula de escape'.. As pessoas são complexas!
     Quando não queremos olhar pra dentro, seja porque não temos o costume, seja por que dói demais e evitamos isso até mesmo de forma inconsciente, o que está lá dentro fica em ebulição. Cada pessoa conhece suas dores e suas alegrias, e vivemos num mundo que não valoriza o elo afetivo, a vinculação emocional, então muitas vezes essa fica deficiente mesmo, e ao não permitirmos o vínculo, ao enterrarmos o sentimento mesmo antes de sentir, acabamos por acreditar que isso não existe, que é um grande 'drama', que isso não aconteceu com a gente. 
     Mas se olharmos para nossas relações atuais, com nossos filhos, nossos parentes, talvez possamos perceber que um elo foi quebrado, que há pouca comunicação real, pouco vínculo, mal entendidos, afastamentos entre familiares, muita coisa não dita... falta as vezes até um abraço que não seja dado de forma constrangida. Talvez pudesse ter sido diferente, talvez não. Não sou psicóloga e não cabe a mim apontar dedos pra ninguém, mas quando vejo alguém achando que não há todos esses sentimentos no puerpério, me pergunto que tipo de colo lhe foi oferecido quando era bebê, que tipo de atenção teve, que tipo de maternidade teve que exercer por força das circunstâncias... que sentimentos trancou no fundo do baú. Quantas pessoas de fato são ouvidas em suas necessidades emocionais?! Não tenho respostas, só faço as perguntas e compartilho o que vivi!


Segue abaixo o vídeo com meu relato pessoal:




Gostaria de deixar aqui o link para alguns textos que eu li durante o puerpério e que fizeram eu ter muito sentimento de identificação. Me ajudaram a me sentir ouvida e compreendida, então compartilho eles com vocês!

Precisamos Falar sobre Puerpério




3 comentários:

  1. Oi Alaya a separação em grupos que você fez apenas demonstra que, enquanto seres humanos, diversos, diferentes, cada um tem a sua opinião e a expressa. O importante é que sua contribuição (vídeo) e a análise posterior (tanto dele quanto da reação das pessoas que o assistiram) que vc fez favorece TEU crescimento enquanto mãe, esposa e, mais importante, enquanto pessoa! Felicidades!
    Meu nome é Marcos Celso, te conheci em Brasília a alguns anos e também tenho um blog. Se quiser, dá uma conferida: https://3xpai.wordpress.com/
    Abraços.

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  2. Prezada Alaya,
    Este comentário, na verdade, não tem nada a ver com seu post sobre puerperio, o qual gostei bastante, a propósito.
    Eu resolvi te escrever, na verdade, para te dar uma sugestão de assunto a ser abordado em alguma publicação ou vídeo. Acabo de sofrer um aborto espontâneo, com 11 semanas de gestação. Acho que, assim como o puerperio, também precisamos falar sobre isso.
    Parece que, quando se trata de maternidade, os assuntos desagradáveis ou dolorosos são sempre abafados. Tenho tido a sensação que, no caso do aborto espontâneo, a sociedade não lhe dá muito espaço para chorar a sua dor. Frases como "foi melhor assim", "Deus sabe o que faz", etc., apesar de bem intencionadas, parecem que pedem o seu silêncio: "Conforme-se! Cale-se!".
    A explicação de que foi uma defesa do organismo da mulher, diante de algum tipo de mutação genética desfavorável do feto ou embrião, não diminui a nossa dor.
    Fui procurar livros para ler. Fiquei surpresa ao encontrar, em minhas buscas, a indicação de apenas dois títulos, difíceis de serem encontrados em livrarias. Comecei a me interessar pela causa do parto humanizado há quase um ano, bem antes de engravidar desse que seria o meu primeiro bebê. O que tem me impressionado é como muitas questões que envolvem o feminino são tratadas como tabu: a sexualidade, a menstruação, o parto, a violência obstétrica, o puerperio, etc. Seria por isso que as ativistas do parto humanizado incomodam tanta gente? Por que falam, contestam e gritam o que ninguém quer ouvir? Pois bem, vi que a questão do aborto não foge à regra: assunto velado.
    Como doula, acredito que deva ter acompanhado algumas mulheres nessa situação. Talvez fosse interessante compartilhar um pouco da sua experiência como profissional a respeito. Acho seus vídeos e postagens bastante coerentes, informativos e sensíveis. Fica aqui a minha sugestão.
    Abraços.

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  3. Olá Alaya,
    Parabéns pelo post e obrigado! É de grande importância para que as inúmeras mulheres que passam pelos mesmos dilemas se identifiquem e se sintam humanas e não como monstros, pelos pensamentos absurdos que as vezes povoam as suas mentes nos dias mais difíceis. Mas também muito importante para que nós papais que estamos acompanhando de perto e participando de todas estas batalhas, possamos entender e apoiar nossas companheiras sem fazer nenhum julgamento ou juízo de valores. Quanto mais este tema for abordado, mais preparados estaremos para encarar estes desafios. Até mesmo os obstetras que acabam pecando em algumas orientações e providências que poderiam tomar para preparar nossas gestantes fisicamente para este momento. As chances de uma gestante com baixa vitamina D, falta de banho de sol, etc... sofrer muito mais com os efeitos pós parto, podendo até mesmo evoluir para uma depressão são exponencialmente maiores.
    Um abraço,
    Dirceu

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