quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O bebê que não nasceu no chuveiro

As vezes eu vejo uma foto de um parto que ocorreu como eu idealizei o meu, e ao olhar para aquela foto é como se eu estivesse em uma realidade paralela em que aquela cena ainda fosse acontecer comigo. Como se eu fosse acordar de um sonho e minha cesárea nunca tivesse acontecido, e eu ainda fosse parir ali no chuveiro, me agachar, pegar minha filha, sentir seu corpo quente colado no meu, sorrir...

Aquele bebê nunca nasceu, ele existiu como forma-pensamento, mais concreto que a imaginação. Ele esteve ali o tempo todo, o bebê parido. Foi no chuveiro que conversei com o bebê que ainda habitava dentro de mim, foi no chuveiro que me entreguei à força das contrações, foi no chuveiro que estive sozinha, mergulhada em mim mesma, foi no chuveiro que chorei e aceitei que eu precisava de uma transferência...

Mas o bebê do chuveiro, ele ainda existe em algum lugar, ele não nasceu, e às vezes ele habita minha consciência quando vou tomar banho.

Quando vejo uma foto assim de parto parido no chuveiro, preciso me dar uns petelecos internos e dizer “ela já nasceu”, ela não está mais aqui dentro de mim, se movendo e me preenchendo, ela não passou por mim, não me atravessou. Ela foi tirada de mim.

Mas esse outro bebê, o bebê astral, acho que ele vai me acompanhar, não nascido, pro resto da minha vida."

(Na foto Simone Ritter com seu Arthur - obrigada por ter cedido a foto que me emocionou)

Um comentário:

  1. Também sonhei com um parto assim, no chuveiro, e também acabei em cesarea por sofrimento fetal.
    Sonhei em parir na casa de parto de São Sebastião, e que passaria o início do TP em casa, no chuveiro, onde estouraria a bolsa e me ajudaria a aliviar as contrações.

    Depois que Manu nasceu, entrar naquele banheiro me dava uma sensação terrível, de fracasso...
    Mudar de casa me ajudou um pouco... Mas ainda sonho com aquele banheiro muitas vezes.

    Manu está com oito meses e choro todos os dias a minha cesarea.
    O tempo vai nos ajudar a curar essas feridas; me identifico muito com sua história e de sua filha

    Força!

    Beijos

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