quarta-feira, 21 de março de 2012

INDICAÇÕES REAIS E “FICTÍCIAS” PARA A CESÁREA

Essa lista muito boa foi criada pela Dra. Melania Amorim (PhD), uma obstetra que não faz cesarianas desnecessárias nem episiotomias a 10 anos (sua conduta sempre baseia-se em evidências), e pela Ana Cristina Duarte, que é obstetriz e doula. 
Vale a pena divulgar a lista, para ajudar a diminuir a quantidade de gestante ludibriada por obstetras desonestos ou desatualizados, e melhorar o atendimento obstétrico no Brasil, para que as condutas sejam aquelas que preconizam a Organização Mundial de Saúde.
(segue abaixo da lista o link para os artigos científicos da Dra. Melania sobre esta questão)



INDICAÇÕES REAIS E “FICTÍCIAS” PARA A CESÁREA

Algumas indicações de cesariana
 

REAIS

1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia completa (total ou centro-parcial);
4) Apresentação córmica (situação transversa);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ativa no momento em que se inicia o trabalho de parto.


PODEM ACONTECER, PORÉM FREQUENTEMENTE SÃO DIAGNOSTICADAS DE FORMA EQUIVOCADA

1) Desproporção cefalopélvica (o diagnóstico só é possível intraparto, através de partograma e não pode ser antecipado durante a gravidez);
2) Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto atualmente é "freqüência cardíaca fetal não-tranqüilizadora", exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão-somente em padrões anômalos de freqüência cardíaca fetal);
3) Parada de progressão que não resolve com as medidas habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia), ultrapassando a linha de ação do partograma. Pode ocorrer parada secundária da dilatação ou parada secundária da descida.


SITUAÇÕES ESPECIAIS EM QUE A CONDUTA DEVE SER INDIVIDUALIZADA, CONSIDERANDO-SE AS PECULIARIDADES DE CADA CASO E AS EXPECTATIVAS DA GESTANTE, APÓS INFORMAÇÃO

1) Apresentação pélvica;
2) Duas ou mais cesáreas anteriores (o risco potencial de uma ruptura uterina – em torno de 1% - deve ser pesado contra os riscos de se repetir a cesariana, que variam desde lesão vesical até hemorragia, infecção e maior chance de histerectomia);
2) HIV-AIDS (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas, individualizar casos
.

DESCULPAS FREQUENTEMENTE USADAS PELOS PROFISSIONAIS PARA REALIZAR UMA CESÁREA DESNECESSARIA. 
(a lista de desculpas e enganações é enorme, tem algumas que a gente nem acredita que usam!)


1. Abdominoplastia prévia
2. Aceleração dos batimentos fetais
3. Adolescência
4. Ameaça de chuva/temporal na cidade
5. Anemia falciforme
6. Anemia ferropriva
7. Anencefalia
8. Artéria umbilical única
9. Asma
10. Assalto ou outras formas de violência (gestante ou familiar foi vítima de assalto, então o bebê pode ficar estressado)
11. Bacia "muito estreita"
12. Baixa estatura materna
13. Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo peso
14. Bebê alto, não encaixado antes do início do trabalho de parto
15. Bebê profundamente encaixado
16. Bebê que não encaixa antes do trabalho de parto
17. Bebê "grande demais" (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é maior ou igual que 4kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes materno com estimativa de peso fetal maior que 4,5kg. Não se justifica ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso fetal).
18. Bebê "pequeno demais"
19. Bolsa rota (o limite de horas é variável, para vários obstetras basta NÃO estar em trabalho de parto quando a bolsa rompe)
20. Cardiopatia (o melhor parto para a maioria das cardiopatas é o vaginal)
21. Cesárea anterior
22. Chlamydia, ureaplasma e mycoplasma
23. Circular de cordão, uma, duas ou três "voltas" (campeoníssima - essa conta com a cumplicidade dos ultrassonografistas e o diagnóstico do número de voltas é absolutamente nebuloso)
24. Cirurgia gastrointestinal prévia
25. Colestase gravídica
26. Colo grosso, colo posterior, colo duro, colo alto
27. Colostomia
28. Conização prévia do colo uterino
29. Constipação (prisão de ventre)
30. Cálculo renal
31. Data provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas festivas (incluindo aniversário do obstetra)
32. Datas significativas como 11/11/11 ou 12/12/12 (ainda bem que a partir de 2013 precisaremos esperar o próximo século)
33. Diabetes mellitus clínico ou gestacional
34. Diagnóstico de desproporção cefalopélvica sem sequer a gestante ter entrado em trabalho de parto e antes da dilatação de 8 a 10 cm
35. Dorso à direita, dorso posterior, ou dorso em qualquer outro lugar
36. Edema de membros inferiores/edema generalizado
37. Eletrocauterização prévia do colo uterino
38. Endometriose em qualquer grau e localização
39. Escoliose
40. Espondilite anquilosante
41. Estreptococo do Grupo B (EGB) no rastreamento com cultura anovaginal entre 35-37 semanas Exérese prévia de pólipos intestinais por colonoscopia
42. Falta de dilatação antes do trabalho de parto
43. Feto com "unhas compridas"
44. Feto morto
45. Fibromialgia
46. Fratura de cóccix em algum momento da vida
47. Gastroplastia prévia (parece que, em relação ao peso materno, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come)
48. Gestação gemelar com os dois conceptos em apresentação cefálica
49. Gravidez não desejada
50. Grumos no líquido amniótico
51. HPV (só há indicação de cesárea se há grandes condilomas obstruindo o canal de parto)
52. Hemorroidas
53. Hepatite B e hepatite C
54. Hiperprolactinemia
55. Hipertireoidismo
56. Hipotireoidismo
57. História de cesárea na família
58. História de câncer de mama ou câncer de mama na gravidez
59. História de depressão pós-parto
60. História de natimorto ou óbito neonatal em gravidez anterior
61. História de trombose venosa profunda
62. História familiar de fibrose cística do pâncreas
63. Idade materna "avançada" (limites bastante variáveis, pelo que tenho observado, mas em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos)
64. Incisura nas artérias uterinas (aliás, pra que doppler em uma gravidez normal?)
65. Infecção urinária
66. Inseminação artificial, FIV, qualquer procedimento de fertilização assistida (pela ideia de que bebês "superdesejados" teriam melhor prognóstico com a cesárea) - motivo pelo qual os bebês de proveta aqui no Brasil muito raramente nascem de parto normal
67. Insuficiência istmocervical (paradoxalmente, mulheres que têm partos muito fáceis são submetidas a cesarianas eletivas com 37 semanas SEM retirada dos pontos da circlagem)
68. Laparotomia prévia
69. Líquido amniótico em excesso
70. Malformação cardíaca fetal
71. Mioma uterino (exceto se funcionar como tumor prévio)
72. Miscigenação racial (pelo "elevado risco" de desproporção céfalo-pélvica)
73. Neoplasia intraepitelial cervical (NIC)
74. Obesidade materna (ou magreza)
75. Obstetra (famoso) não sai de casa à noite devido aos riscos da violência urbana
76. Parto "prolongado" ou período expulsivo "prolongado" (também os limites são muito imprecisos, dependendo da pressa do obstetra). O diagnóstico deve se apoiar no partograma. O próprio ACOG só reconhece período expulsivo prolongado mais de duas horas em primíparas e uma hora em multíparas sem analgesia ou mais de três horas em primíparas e duas horas em multíparas com analgesia. Na curva de Zhang o percentil 95 é de 3,6 horas para primíparas e 2,8 horas para multíparas)
77. Passou do tempo (diagnóstico bastante impreciso que envolve aparentemente qualquer idade gestacional a partir de 39 semanas)
78. Placenta grau III ou II ou I ou qualquer outra classificação
79. Plaquetas baixas não oclusivas do colo do útero
80. Possível falta de vaga em maternidade para um parto normal, caso a gestante não marque a cesárea
81. Pouco líquido no exame ultrassonográfico sem indicação no final da gravidez
82. Praticar musculação ou ser atleta
83. Pressão alta
84. Pressão baixa
85. Problemas oftalmológicos, incluindo miopia, grande miopia e descolamento da retina
86. Prolapso de valva mitral
87. Qualquer grau de placenta
88. Qualquer malformação fetal incompatível com a vida
89. Qualquer procedimento cirúrgico durante a gravidez
90. Sedentarismo
91. Septo uterino/cirurgia prévia para ressecção de septo por via histeroscópica
92. Ser bailarina
93. Suspeita ecográfica de mecônio no líquido amniótico
94. Síndrome de Down e qualquer outra cromossomopatia
95. Síndrome de Ovários Policísticos (SOP)
96. Tabagismo
97. Trabalho de parto prematuro
98. Trombofilias
99. Varizes uterinas
100. Uso de antidepressivos ou antipsicóticos
101. Uso de heparina de baixo peso molecular ou de heparina não fracionada
102. Varizes na vulva e/ou vagina



Artigos sobre indicações de Cesárea

Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte I - https://docs.google.com/file/d/1kXAdud3vlkOrLeN1B_si9cpVrEe41IzsG2HeiyTzIAzi1-BA4Usc2t1uxZoS/edit?hl=en

 Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte II - https://docs.google.com/file/d/1BFsNkUiimQjquT68kNVLxmfsNTDgAHjXaJcmjTNXznieuRzZ5kmiCAOtgJYd/edit?pli=1#

Condições frequentemente associadas com cesariana, sem respaldo científico - https://docs.google.com/file/d/0ByeaAlBSCXOOZjY5N2E4MTAtNzMxZi00NmY4LWIyMzUtOTM4ODFhNWJmYTRm/edit?hl=en&pli=1

2 comentários:

  1. Afff! A lista das indicações fictícias é tão grande que nem tive paciência pra chegar no final.
    Eu vivi o nascimento da minha filha de forma natural, sem episiotomia e analgesia, apenas com a água quentinha da banheira aliviando a dor. Por pouco ela não veio de cócoras dentro da água, preferiu a seco mesmo. E foi a experiência mais intensa e maravilhosa da minha vida!

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  2. Por que o risco de trombose é considerada uma causa fictícia?!

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