sábado, 26 de dezembro de 2015

Efeito irritação - para minha bebê quase criança de 17 meses.

Para minha filha de 1 ano e 5 meses sobre seu dia agitado, que teve sono e cansaço acumulado e uma bebê muito irritada!



Hoje seu dia foi todo estranho, você que gosta tanto da rotina, de prever passo após passo o que vai acontecer – isso te dá tranquilidade, e seu relógio biológico já está acostumado. Mas hoje foi um furacão.

Você foi tirada da cama mais cedo do que está acostumada, você sempre despertou naturalmente. Não tomou seu café da manhã como sempre toma, sentada na mesa, não dava tempo. Trocou de roupa as pressas, entrou no carro, ainda não tinha nem terminado de acordar direito, os olhos pesados, o cabelo despenteado...

Chegou no destino, um lugar que você gosta, tem a escada -- você adora subir e descer a escada, se sente desafiada, é do seu impulso natural infantil de explorar e vencer obstáculos. Não te deixaram subir na escada...

Você foi distraída, tinha lugares pra explorar, coisas pra fazer, mas você não é boba, sabe quando estão tentando te distrair para que você não atrapalhe, e quando estão realmente ali brincando com você. Atenção de verdade é bem diferente da simulada. Você sente bem o que acontece.
Todos estavam muito ocupados, e você ficou ali, explorando, meio sozinha, bastante sozinha na verdade. Você gosta de companhia, mas não podiam te atender. Você foi ótima, foi levando, se distraindo. Ganhou um pouco de atenção aqui, outro pouco ali, um colinho rápido, vários hiatos. Comeu uma banana de pé, tomou uns goles de água, foi ficando cansada.

Já era 11 da manhã e você estava entediada. As 11 é o horário usual da sua soneca, seu corpo pedia para dormir, os acessos aos lugares eram restritos e você percebia essa restrição. O calor aumentava com o sol quase a pino, estava muito quente, e você cansada e irritada, chamou a mãe. A mãe atendeu, deu colo, deu mamá, sentamos num cantinho no chão quietas, na esperança de você relaxar e descansar.

Mas a rotina tinha sido quebrada, o lugar novo, a excitação, a movimentação, o calor...
E o calor aumentou, e você queria muito subir a escada, mas ninguém deixava você passar, você chorava, implorava, brigava, ninguém deixava.

Você ficou tão chateada, tão frustrada. Acham que por que algo não é importante pros adultos não deve ter importância mesmo. Pra você tinha minha filha, eu sei, na sua cabecinha infantil, nos seus impulsos de explorar, pra você tinha importância, você queria ver as pessoas, estar com nós, mas não podia subir, desculpe, sei como você ficou chateada.

Então brincamos com água, pra você se acalmar e refrescar do calor, você voltou a sorrir, o dia voltou a ficar bom. Mas claro, já era 12h e sua soneca já havia sido pulada, depois de vestir a roupa novamente, lá veio a irritação de novo. Qualquer adulto com sono, entediado e com fome fica de mal humor, mas a gente, os adultos, aprendemos a lidar com as adversidades, você é iniciante, ta aprendendo ainda, não tem obrigação de saber lidar.

Não tinha um colchãozinho pra você deitar, e a curiosidade que aquele movimento todo naquele lugar novo te despertava não te ajudava a relaxar. Você estava incomodada, e muito braba!
Fomos para o carro, ultima tentativa de você relaxar. Dormiu, apagou no primeiro minuto!
Dormiu meia horinha... bem menos que suas usuais 1h -- meia horinha de sono já atrasado, mas tudo bem, um pouquinho já ia te ajudar.

Soneca atrasada, almoço atrasado, coisas da vida. Vamos comer, você não tem culpa dos nossos horários de adultos, a gente dá conta, a gente entende as quebras de rotina, a gente compensa, a gente racionaliza, você não. Você só vai ficando incomodada e perdida e me olha com cara de “por que você está fazendo isso comigo mamãe?”

Almoçamos, lugar estranho, ok, você se adapta! Comida mais ou menos, ok você mata a fome. Mas o cansaço, o tédio, o sono, a fome;  já estão acumulados. E quando acumula minha gente... o bicho pega!

Voltamos, pra mesma casa onde você não pode subir as escadas, onde todos estão ocupados e não te dão atenção de verdade. Sua vó brinca um pouco contigo, seu pai tenta te pegar no colo, sua mãe improvisa uma brincadeira, mas nada funciona bem. Você não quer mais catar gravetos no quintal, você não pode mais brincar com a água, as portas fechadas, sem brinquedos. E ai você vê, o parquinho!! Você lembra do parquinho! No parquinho é legal! Tem escorrega, tem balanço, tem areia! O parquinho vai vencer o tédio, vai passar por cima do cansaço. Mas sua mãe não deixa. Ela até te leva pra correr na grama e explorar a praça, mas ela não deixa você entrar no parquinho, e você não entende por que né filha, parece pura maldade!

Era um motivo tão bobo, vinha uma nuvem de chuva, aquela era a última fralda da bolsa, já estávamos lá a 7 horas seguidas e eu não podia encher você de areia e não ter outra fralda pra trocar. O motivo era adulto, mas você não entende motivos adultos, seu mundo é regido pelo seu impulso de explorar, pela sua liberdade e vivacidade, e pela sua rotina que foi quebrada.

Quando eu te forcei a se afastar do parquinho e entrar novamente pelo portão da casa, você ficou indignada, revoltada, morreram suas últimas esperanças de brincar. Você estava muito chateada comigo, não entendia por que não podia brincar, brincar pra você é muito importante, é vital!

Eu bem que tentei, mas a quebra de rotina, as restrições, a falta de atenção, o sono atrasado, a alimentação picada, o calor... você era só irritação. Eu entendo filha, entendo seus motivos, você tentou a escada de novo, e novamente não deixei você passar. Estava sujo lá em cima, com cheiro de tinta, não era apropriado para você, mas como você poderia saber disso né? Provavelmente na sua cabecinha era apenas mais uma arbitrariedade minha, e você ficou mais braba ainda, protestou, se jogou, bateu a cabeça no chão. E agora além de tudo estava com dor.

Eu respeito seu direito de estar chateada minha filha, mas não podia deixar você passar. Entendo suas razões, não espero de você mais do que um comportamento infantil saudável de uma criança cansada que só queria brincar. Você ainda terá muitas frustrações na vida minha filha, ouvirá muitos “Nãos” das impossibilidades cotidianas, não vou te castigar por estar cansada e chateada. Você não entende as razões dos adultos, mas nós podemos entender as tuas. Não vou te rotular, não vou te chamar de chata, de manhosa, de enjoada, você tinha todos os seus motivos para estar irritada, e eram SEUS motivos e para você faziam pleno sentido. Respeito teus sentimentos, por mais que às vezes você também me tire do sério.
Ao voltar pra casa você novamente dormiu no carro, dormiu não, apagou!
Estava tão exausta que fiquei com dó de te tirar do carro ao chegarmos e fiquei ali “de castigo” mais uns 40min estacionada, esperando você dormir o sono que você tanto precisava dormir.

O fim do seu dia em casa foi conturbado, nada da rotina funcionou, e seus pais estavam tão cansados. Agora eu te vejo filha minha, dormindo novamente após esse longo dia, você sorri e se aninha no meu colo e não tem mais sinais de irritação.

Quero te dizer que amanhã será mais fácil, mas só posso te prometer que me esforçarei mais para te acolher e respeitar teu ritmo, pois o teu ritmo não é o dos adultos, e as crianças precisam ser protegidas.


Amanhã tem mais confusão filha, e depois de amanhã também. Sabe, a gente tá de mudança, pra uma casa nova! E todos os dias você vai poder brincar naquele quintal, e tomar banho de mangueira, e vai poder ir no parquinho que você tanto queria também! Papai e mamãe estão felizes, e eu vejo que você fica feliz de estar nessa casa também! A confusão vai passar filha, e muitas coisas você ainda não vai entender, mas vai melhorar, te prometo! Seus pais e seus avós estavam hoje fazendo coisas muito boas, e com muito amor, e tudo isso envolve você. Você só precisa de mais pausinhas pro seu ritmo se acostumar, pro seu ritmo de bebê, bebê meio criança, quase criança. Essa fase maluquinha que você tenta entender o mundo e a gente tenta te entender!
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