quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O bebê estranha e só quer saber da mãe

Bebês choram, e o choro é sempre uma forma de comunicação. Cabe a nós nos esforçarmos para compreender, pois bebês merecem que a gente tente compreender o que eles nos pedem, pois dependem de nós (sim, aceite, bebês dependem). O bebê, quanto mais novo, mais precisa da mãe. Ele vive uma relação simbiótica com a mãe, grudado mesmo. Nos primeiros meses ele sequer vai compreender que ele é separado da mãe, dizem os estudiosos que na cabecinha dele é tudo a mesma coisa, mãe, colo, peito, ele chora e ali ela está, querer que ele seja ‘independente’ ou acostume a não ser atendido pra ficar sozinho, é simplesmente um ato de crueldade, bebês precisam da mãe.



Bebês não fazem birra, se ele chora é por que está pedindo alguma coisa, está com algum desconforto, precisa de algo ou alguém. Imagine se eu estivesse com fome, desconfortável, angustiada ou com medo, e pedisse ajuda e ninguém me atendesse, isso não me deixaria mais segura, pelo contrário, ficaria cada vez mais assustada. Atender um bebê que chora o ajuda a desenvolver segurança para dar o passo seguinte.

Em torno dos três meses o bebê começa a enxergar melhor, e ele tem um salto de desenvolvimento, isso gera uma certa “crise” nele. De repente ele começa a perceber que ele e a mãe não são a mesma coisa, que a mãe se aproxima e se afasta. Ele não entende que logo ela vai voltar, ele não tem como raciocinar que ela está ali na cozinha, ou que aquela outra pessoa que o carrega vai devolvê-lo pra mãe logo logo. Então o bebê chora. Ele começa a entender que depende da mãe pra sobreviver, que é ela que o alimenta, o ajuda a dormir, o acalenta, o higieniza. Então ele aprende a chamá-la.

Se afastar da mãe gera angústia, ele não sabe que o berço dele é seguro e está em um quarto e a mãe está bem ali na sala, ele não sabe que não vai entrar um tigre ali e comê-lo. Sim, um tigre, o bebê é um serzinho primitivo que ainda não tem o neocórtex (cérebro racional) desenvolvido, por isso da mesma forma que ele não faz birra pois é incapaz de elaborar qualquer tipo de manipulação, ele também não entende o mundo em que vive e não raciocina onde está e como está, ele é instintivo, e se um bebê no tempo das cavernas corria risco de vida se deixado sozinho, o nosso bebê tem o mesmo instinto internalizado nele; para ele estar longe da mãe é estar em risco, e por isso ele chora, é assim que temos sobrevivido. Não se trata de “acostumar mal”, se trata de respeitar a fase de desenvolvimento que ele se encontra, aceitar que no momento é o que ele precisa pra se acalmar, e compreender que é uma fase e logo, aos poucos, ele vai entendendo melhor o mundo, as pessoas, as relações, e vai criando confiança, e se acostumando com outras pessoas e outros colos. Atender meu bebê é respeitar os sentimentos dele, não atender pra forçar que acostume de outra forma, é cruel.

Em torno dos três meses o bebê dá um salto cognitivo, ele começa a ter seus sentidos mais desenvolvidos, e se antes ele não diferenciava muito de quem era o colo em que ele estava, agora ele começa a diferenciar. Por isso um bebê novinho vai fácil no colo de qualquer um, e de repente um dia começa a estranhar. Ele não está dizendo que não gosta mais de você que o carrega, ele não está dizendo que você está fazendo algo errado, ele está apenas chamando a mãe, pois percebeu a importância dela e sente medo. Não é que você seja assustadora (você - tia, amiga, avó...) é que o bebê está um pouco inseguro com essas novas capacidades de percepção dele, não é nada pessoal com você. Não adianta forçar a aceitar o colo de outra pessoa, não adianta querer que ele aceite a qualquer custo, se aproxime com calma, conquiste a confiança, não force. Essa aceitação dos outros vem com o amadurecimento, com o tempo. E ele vai passar por essas crises em outros momentos também (como em torno dos oito meses), se chama ansiedade da separação, é uma demonstração saudável de desenvolvimento, tenha paciência com ele.

Imagine uma pessoa que tem pavor de mar, o que é mais eficaz em ajuda-la: deixar que molhe os pés no mar, no raso, e se afaste sempre que precisar, sempre que sentir medo, sendo incentivada carinhosamente a tentar de novo,... ou leva-la pra alto mar e joga-la na água? Deixar um bebê chorando no colo de alguém só pra ele acostumar, não vai torna-lo mais tranquilo. Se a mãe atende quando ele chora, aos poucos ele percebe que pode criar coragem e experimentar, tentar ficar mais um pouco, pois ele sabe que assim que sentir medo ele pode chamar e ser atendido.

É uma fase, passa, logo o bebê vai entender melhor o mundo, conhecer e lembrar melhor das pessoas (lembrem,bebês tem memória de lagartixa rsrs), e vai aprender a apreciar outras companhias. Não se sinta rejeitada se um bebê te estranhar e pedir pela mãe, ele está apenas fazendo uma “bebezice”. E não culpe a mãe criticando como ela o cria, pois amor e transmissão de segurança não estragam bebês. Lembre que o bebê é uma pessoa, não um objeto, respeite o direito que ele tem de não querer ser pego por um desconhecido, ou por alguém que ele conhece pouco, mesmo que você seja um familiar. Ele não é obrigado a aceitar as pessoas por causa de normas sociais. Hoje a mãe é o mundo dele, logo haverá mais espaço para outros mundos no universo do bebê. 
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