domingo, 27 de janeiro de 2013

Cesaristas: Elas pedem AJUDA! - Relato de um obstetra


Esse relato foi dado pelo obstetra Braulio Zorzella, um médico humanizado que entende que nem sempre o pedido pela cesárea é um pedido genuíno, e que a maioria das mulheres são levadas a desacreditar de sua capacidade de ter um parto normal. Um médico humanizado aprende a ouvir o pedido por trás da fala, e a deixar a mulher parir em paz. Um relato de um parto normal após duas cesáreas anteriores, que aconteceu apesar de tudo tender para o contrário naquele momento. A sorte de encontrar um médico humanizado, precisamos de mais obstetras assim! Emocionante!



"Ela chegou gritando e esperneando como se estivesse sendo torturada... A conheci hoje, no plantão de retaguarda da maternidade que tem 98% de cesáreas pelo SUS, restanto os 2% de PN dos dias que estou de plantão... Isso mesmo que ouviram, 98% de cesáreas pelo SUS! Ela com 23 anos, terceira gestação, 2 cesáreas anteriores, 38 semanas, bolsa rota e 5cm de dilatação, colo finíssimo, apresentação baixa. 
A mãe chorando e as duas juntas pedindo "PELO AMOR DE DEUS DOUTOR, FAÇA UMA CESÁREA!!!". 
Sentei ao seu lado no pré-parto, apaguei as luzes, pedi pra enfermagem sair (nesse hospital elas não têm a mínima prática com Parto Normal). Entre as contrações ela acalmou-se, porém durante elas, virava bicho e não ouvia nada, se contorcendo e gritando que o médico do pré-natal falou que ela não podia ter parto normal de jeito nenhum pois no caso dela era impossível!
Perguntei se ela já quis algum dia ter Parto Normal e ela disse que sempre quis mas os médicos sempre falaram que ela não podia. No primeiro, bacia estreita, no segundo, não dilatou e agora pois já tinha 2 cesáreas. Insisti mais um pouco em tentar acalmá-la e explicar os possíveis benefícios do bebê nascer natural, mas foi em vão naquele momento. A enfermagem e a pediatra voltaram e me olhando com olhos de "oque você está esperando pra chamar o anestesista pra cesárea?"
Foi então que de caso pensado falei (em voz baixa PARA O BEBÊ NÃO OUVIR): "Liga pro anestesista e diga que teremos uma cesárea!"
Percebi que contentei a todos nesse momento! A paciente acalmou-se, a mãe foi contar pro marido, a enfermagem começou a se movimentar e a pediatra foi preencher papéis. Vieram com lâmina pra tricotomia e bandeja de sonda. Olhei e disse: "Pode deixar que eu faço a tricotomia e a sondagem depois de anestesiar".
Chegou o anestesista que não viria para uma analgesia de parto se eu chamasse, mas como eu disse que seria cesárea veio... pedi então que fizesse uma dose menor na raqui mesmo, apenas para tirar a dor mas que NÃO SERIA CESÁREA! Todos se assustaram!!! "Como assim? Com 2 cesáreas anteriores?" Aquele olhar de "ele deve estar louco!".
Anestesia feita, a dor passa, suficiente pra EU CONSEGUIR CONVERSAR COM ELA!
Lamentável mas como NINGUÉM CONVERSOU ANTES COM ELA, nem no pré-natal e nem no hospital e só me reservaram os 48 do segundo tempo para eu conversar, o único jeito de ouvir foi anestesiando: "E agora, está bom pra vc assim? A dor melhorou? Seu problema está resolvido?... Vamos resolver o do bebê agora? O bebê está super bem, e ME DISSE QUE ESTÁ QUERENDO MUITO NASCER DE PARTO NORMAL. Ele não sabe ainda que vai ser cesárea. Ele está na posição e quase saindo e vc tem a passagem ótima pra ele, vamos tentar? Ou se preferir ainda posso fazer a cesárea, pois não vou fazer nada contra a sua vontade".
Ela me olhou, arregalou os olhos ao mesmo tempo que veio um puxo e começou a fazer força... Ela sorriu e percebeu que podia... Me olhou novamente e fez mais força e se empolgou! Na terceira força ele nasceu perfeito e com nota 10 da pediatra incrédula.
Foi ao colo da mãe que o beijou muito dizendo: SEMPRE ME FALARAM QUE EU NÃO IRIA CONSEGUIR! Não acredito que consegui fazer isso!...
Caros cesaristas de plantão: ELAS PEDEM AJUDA E NÃO CESÁREA!!!"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

50 Intervenções desnecessárias durante a gravidez, parto e pós-parto.


Pela doula Ingrid Lotfi, com supervisão técnica da obstetra Melania Amorim e da enfermeira-obstetra Maíra Libertad.


Questionem e não se deixem enganar!



1) Exames pré-natais não incluídos na rotina preconizada pelo Ministério da Saúde do Brasil (os exames recomendados são: grupo sanguíneo e fator Rh, sorologia para sífilis – VDRL, hemoglobina e hematócrito para rastreamento de anemia, exame de urina tipo I, sorologia para HIV e hepatite B – AgHBs, glicemia de jejum, teste para toxoplasmose-IgM, colpocitologia oncótica se necessário).
2) Exames de efetividade discutível sem prévia discussão com a gestante sobre riscos e benefícios (p.ex. pesquisa de EGB (Estreptococcus do Grupo B)).
3) Prescrição de complexo vitamínico, sem uma indicação clara.
4) Ultrassonografias sem indicação clínica.
5) Dopplerfluxometria em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.
6) Ecodopplercardiografia (exame para avaliar o coração) fetal em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.
7) Cardiotocografia em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.
8) Teste oral de tolerância à glicose (TOTG) em gestação de baixo risco ou sem indicação clínica.
9) Cesariana eletiva sem indicação clínica e/ou sob falsos pretextos (ver lista das “Indicações das desnecesáreas).
10) Exames de toque antes do trabalho de parto, sem indicação clara.
11) Descolamento de membranas antes de 41 semanas de gravidez.
12) Descolamento de membranas sem prévia discussão e autorização da gestante.
13) Restringir a escolha do local de parto.
14) Desencorajar ou proibir o acompanhante/doula no parto da escolha da mulher, ou permitir a entrada de pessoas não autorizadas.
15) Internação precoce.
16) Exames de toque/remoção de rebordo de colo abusivos durante o trabalho de parto e de rotina.
17) Exames de toque/remoção de rebordo SEM o prévio consentimento da gestante.
18) Toque Retal.
19) Jejum, tricotomia (raspagem dos pêlos) e enema (lavagem intestinal).
20) Qualquer restrição à deambulação/liberdade de movimentos.
21) Estabelecer limites rígidos para a duração da fase latente, ativa e do período expulsivo.
22) Atrapalhar o processo fisiológico do parto, desconcentrando a gestante.
23) Monitoração fetal contínua ao invés de intermitente (onde o profissional ausculta o bebê de tempos em tempos com o sonar).
24) Uso rotineiro de soro com ocitocina/indução com misoprostol.
25) Uso rotineiro de analgesia de parto.
26) Oferecer ou insistir na analgesia de parto sem que a mulher a tenha solicitado.
27) Amniotomia de rotina (rompimento da bolsa).
28) Puxos precoces (treinar fazer “a” força, antes que a mulher possa sentir os puxos).
29) Puxos dirigidos (“faça força agora”, “força comprida”, etc).
30) Manobra de Valsalva (orientar a “trincar os dentes e fazer força”).
31) Desestimular a escolha pela mulher da posição/ambiente em que quer parir.
32) Manobra de Kristeller (empurrar o fundo do útero)/pressão de qualquer intensidade no fundo uterino/”só uma ajudinha”.
33) Manobra de “divulsão” perineal e/ou massagem perineal sem consentimento da mulher.
34) Episiotomia.
35) Não permitir o nascimento espontâneo.
36) Aplicar fórceps e vácuo de rotina e/ou sem autorização da mulher.
37) Sutura rotineira das lacerações.
38) Revisão instrumental do canal de parto de rotina (fórceps, vácuo extrator).
39) Cesariana intraparto sem indicação precisa e sem caráter de emergência.
40) Ligadura precoce do cordão, sem aguardar parar de pulsar.
41) Entregar um bebê vigoroso ao neonatologista para secar e aquecer, afastando-o da mãe.
42) Aspiração de rotina das vias aéreas do recém-nascido.
43) Passagem de sonda de rotina no recém-nascido, para pesquisar atresia de coanas, atresia de esôfago e ânus imperfurado.
44) Uso rotineiro de Credé (colírio de nitrato de prata).
45) Levar bebês saudáveis para o berçário.
46) Fazer qualquer procedimento com o RN sem consultar e obter autorização dos pais.
47) Não permitir o delivramento (saída da placenta) espontâneo.
48) Revisão manual da cavidade uterina de rotina, mesmo em casos de cesárea anterior.
49) Oferecer bicos, chupetas, mamadeiras, com leite artificial para o recém-nascido.
50) Aplicar vacinas sem o consentimento e autorização dos pais

Você sabe mesmo o que é Parto Humanizado?!



Não verdade não há um consenso sobre o que é parto humanizado e há muito preconceito também, especialmente entre profissionais que se recusam a sair do modelo "eu faço partos há 20 anos, não é você quem vai me ensinar". Entre essa categoria mais engessada, a fala em geral é: "se eu não faço parto humanizado, eu faço o que? parto de bicho?". Em uma coisa eles têm razão, esse nome não diz nada! 

O que faz diferença na assistência humanizada verdadeira é a atitude de todos. Por isso, se o seu profissional prioriza o conjunto te preceitos enumeradas abaixo, ele é um profissional humanizado, dentro desse conceito de humanização. 

Foto pela minha amiga e doula-parceira Erica de Paula, bebê nasceu na água pesando 4670g


Vamos a eles! O Parto Humanizado é:

1) Respeito aos tempos da mãe e do bebê. Qualquer aceleração do processo, quer indução, aumento artificial das contrações ou agendamento de cesariana precisa de uma forte justificativa clínica. Não faz sentido marcar a cesariana porque a mãe está pesada, e entender isso como "protagonismo feminino". Existem várias possibilidades de ajuda para uma mãe cansada, e que não desrespeitam o tempo do bebê.

2) Respeito ao protagonismo feminino. É importante mudar o olhar e compreender que o parto é da mulher e que ela tem direito a escolhas e total liberdade. Esse é talvez o maior desafio dos profissionais e dos serviços. A cada vez que alguém se dirige à mãe e se diz o que ela deve fazer, já houve um desrespeito a esse protagonismo. Um exemplo básico, se a mãe chega na triagem e alguém diz: "por favor, mãezinha, a senhora vai ali naquele banheiro, tira toda a roupa e coloca essa camisolinha voltada para trás".. BANG! Matou o protagonismo! Essa talvez é a maior mudança de mentalidade necessária e a origem de todas as outras mudanças.

3) Compartilhamento de responsabilidades. O médico não proíbe, não aconselha, não manda. O médico ou a parteira ou qualquer outra pessoa da equipe mostra sempre as opções e a mulher escolhe o que ela quer para ela. Mesmo quando parece não haver opção, há opção. E já que não existem garantias mesmo, o melhor é ser claro, mostrar riscos e benefícios e permitir que a mulher sinta que está sendo co-responsável por suas escolhas. Por exemplo: "Sim, você pode tomar analgesia, mas existe um pequeno risco disso repercutir para o bebê, ou você pode tentar ficar mais um pouco na banheira, ficar lá com o seu marido e ver se consegue aguentar mais um pouquinho. Quem sabe possamos reavaliar daqui a 1 hora e já vai estar bem mais perto de nascer?"

4) Uso das melhores evidências. Depois de 30 anos de evidências contra o uso rotineiro de episiotomia, não cabe afirmar que a episiotomia protege a mulher. Hoje em dia existem claras evidências de que o melhor é deixar o parto acontecer naturalmente, sem qualquer tipo de intervenção, no ambiente mais simples possível, com equipes igualmente simplificadas.

5) Levando tudo isso em consideração, apesar de que uma ou outra mulher possa precisar de analgesia, ou de rompimento artificial da bolsa das águas, ou um pouquinho de ocitocina em algum momento, a imensa maioria das mulheres de baixo risco terá, dentro desses princípios todos, um parto:

- De início espontâneo, sem indução
- Sem precisar subir em cadeira de rodas ou macas até a sala de parto
- Sem precisar usar uniformes específicos
- Em um ambiente simples, sala agradável (chamadas de PPP), com mobília adequada, com banheira e chuveiro disponíveis, luz baixa, música a gosto e total privacidade
- Atendido por uma obstetriz, enfermeira obstetra e/ou médico
- Sem o uso de ocitocina durante todo o trabalho de parto
- Sem raspagem dos pelos pubianos e/ou a abjeta lavagem intestinal
- Com liberdade de alimentação e ingestão de líquidos
- Sem o uso de cardiotocografia contínua, tendo o coração do bebê avaliado intermitentemente com um sonar simples, a intervalos regulares de tempo
- Com apoio contínuo do(s) acompanhante(s) e de uma doula particular
- Com o uso de métodos não farmacológicos para dor
- Com o uso de analgesia se necessário, depois de informada dos riscos e benefícios
- Sem ruptura artificial da bolsa das águas
- Com absoluta liberdade de movimentos para a mãe durante todo o processo, inclusive durante o período expulsivo
- Encorajamento das posições verticalizadas
- Sem episiotomia, sem empurrar a barriga, sem dedos nervosos na vagina da mulher, sem prender a respiração para fazer força comprida, sem fórceps, sem vácuo-extrator para acelerar um processo em que mãe e bebê estão bem
- Sem limites arbitrários de tempo para o parto e para o período expulsivo, porque o bebê "ainda está alto", por exemplo
- Com o bebê sendo colocado imediatamente no colo da mãe com o cordão ainda ligado, mantido intacto pelo menos até parar de pulsar, e com amamentação a mais precoce possível
- Sem aspiração das vias aéreas do recém nascido, separação da mãe, colírio e identificação só após a primeira mamada, vitamina e vacina só depois de algumas horas e após tempo para o vínculo mãe-bebê
- Com o uso de alojamento conjunto desde a sala de parto até o final da estadia

6) O uso de uma intervenção (ou mais, se necessário) não tira o aspecto humanizado do parto. Desde que seja necessária no contexto e de que seja dada a escolha para a mãe, desde que seja, portanto, utilizada em caráter de exceção. E no final, até mesmo uma cesariana pode ser necessária, e ainda assim é perfeitamente possível ser calmo, falar baixo, respeitar mãe e bebê sem falar de outros assuntos, baixar a luz, aquecer o ambiente, e obedecer aos três últimos princípios, que ocorrem depois do nascimento.

Em suma, o parto humanizado é um parto o mais natural possível, com o menor número de intervenções que for possível para aquela dupla mãe-bebê e onde cada intervenção só seja utilizada quando os seus riscos forem menores do que o risco de não utilizá-la; onde os tempos, os interesses e a liberdade da mãe e do bebê sejam os principais motivadores de todos os envolvidos; e o melhor: tudo baseado em evidências científicas e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

As contrações são como ondas, deixe elas fluirem



          Conheci esse texto lá por 2008, ele circulou por algumas comunidades de maternidade no orkut. Escrito por uma querida amiga sob o pseudônimo de Xícara de Luz. Que ele possa ajudar as gestantes a se entregarem ao momento do parto.

Ela vai durar bem pouquinho no início. Tanto é que você não vai nem sentir as primeiras se você estiver dormindo. Duram segundinhos. E até vir a próxima "onda" leva tanto tempo que você já se esqueceu como foi a anterior. Está entendendo?

Quando o trabalho de parto engrenar, o que pode demorar horas ou dias, você já vai estar habituada com a contração. Já conseguirá identificar quando ela inicia, saberá quando está na "crista da onda" e também quando ela está indo embora. Então o que muda para ficar tão difícil como dizem?? Muda a duração da contração, que era segundinhos, e passa a ser de um minuto ou pouco mais. Muda também o intervalo, que podia ser de hora ou longos minutos, e pode passar a ter segundinhos.

Ou seja, não existe um momento a partir do qual você sentirá uma dor dilacerante e ficará com ela por dias. Contrações são ondas. Vem e vão. [O mar pode estar calmo, e depois se agita]. E algumas mulheres, com trabalho de parto prolongado, podem ter intervalos de minutos e até DORMIREM entre uma contração e outra.

Mas aí vem o grande mistério do poder feminino de parir. Se você entender muito bem que aquelas ondas estão trazendo seu filho, a cada contração você sentirá ele mais próximo dos seus braços. Você não lutará contra a contração, porque você QUER que ela venha e lhe traga seu filho. [Você embarca na onda, e surfa com ela, e se entrega à intensa sensação de parir]. Estar dando a luz e ser a protagonista daquele fenômeno é tão fabuloso que em vez de vestir aquele momento com dor... surpreendentemente você poderá fazê-lo com PRAZER.

Porém, você só pode fazer aquilo que acredita que pode. Ainda resta algum tempo até o seu parto, portanto, eu gostaria de lhe dizer para reforçar a auto-estima, olhar para a mulher que muitas vezes superou outros obstáculos na vida, e encontrar força e confiança para assumir o nascimento do seu filho. Acredite que, apesar de tudo que já lhe disseram sobre dores insuportáveis, as mulheres têm sobrevivido à isso por milênios. Elas não o fariam tantas vezes se realmente fosse maior do que elas podem aguentar

Eu acredito em você!
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